sábado, 23 de outubro de 2010

Site do estatuto do idoso

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estatuto_idoso.pdf

O Idoso na sociedade contemporânea - Tatiele Pereira de Souza


Pensar a questão do envelhecimento em uma sociedade capitalista significa localizá-lo, no âmbito da análise das relações de produção, do mercado de consumo e das representações sociais sobre a categoria velhice e porque não, das representações sobre o corpo que esta sociedade atribui significado.
Analisar sociologicamente a categoria velhice exige primeiro, saber como essa categoria é criado. Guita Debert (1999), em seu livro “A Reinvenção da Velhice”, se apóia em Pierre Bourdieu, a afirmação de que: “As categorias de idade são criações arbitrárias que se modificam de acordo com as diferentes sociedades”. Nesse sentido os significados e assim as representações sociais, a maneira como a sociedade pensa questões como a idade, são culturalmente construídas, não são dados da natureza.
De acordo com a autora Guita Debert, a idade cronológica baseada num sistema de datação, é nas sociedades ocidentais um mecanismo básico de atribuição de status como a maioridade legal, papéis ocupacionais como a entrada no mercado de trabalho e formulando demandas sociais como a criação das aposentadorias. Estas diversas formas de classificação da vida estão atreladas a um modelo de produção em que o econômico, a valorização da produtividade e do consumo são de suma importância. Nesse sentido a valorização do jovem em detrimento do velho, pode ser entendida já que o jovem é o individuo que está em plena atividade produtiva.
Segundo Clarice Peixoto (2003), no Brasil as novas imagens da velhice chegam ao final da década de 60, recuperando a noção de idoso em detrimento da palavra velho. Em todas as sociedades industriais a partir da criação da aposentadoria o ciclo de vida é reestruturado, estabelecendo-se três grandes etapas: a infância e a adolescência como tempo de formação, a idade adulta como tempo de produção e a velhice como idade do repouso.
Outro ponto importante que está relacionado a esse modo de produção e a cultura de nossa sociedade são as representações sociais em tomo da beleza, a busca do corpo perfeito, sempre ligado a jovialidade. Mirian Goldenberg no livro “De Perto Ninguém é Normal- Estudos sobre o corpo, sexualidade e desvio na cultura brasileira” realizou uma pesquisa com homens e mulheres no Rio de Janeiro, onde mostra como o corpo tem um significado importante para as relações afetivosexuais e em determinados comportamentos que podem ser interpretados como fruto de uma cultura que valoriza excessivamente a aparência, a juventude e a forma física.
 Envelhecer em uma sociedade com esses valores se torna uma experiência negativa, no entanto, com a implementação de direitos sociais como a aposentadoria, o que está ocorrendo de acordo com Guita Debert (2003), é a reinvenção da terceira idade e a resignificação da questão do idoso em nossa sociedade. De acordo com a autora a invenção da terceira idade é fruto do processo de socialização da gestão da velhice, nesse sentido o idoso sai da situação de decadência e pobreza e passa para um tempo privilegiado, para exercer atividades de lazer fora dos constrangimentos do trabalho e da família.
Esses idosos que conseguiram se aposentar passa a ser alvo do mercado de consumo, que vê neles a possibilidade de um consumidor ou de uma classe de consumidores em potencial, o que se vende é a busca pelo não envelhecimento, pelas fórmulas para se rejuvenescer, ou retardar o envelhecimento, o que se propõe ao idoso é que ele viva de acordo com o estilo de vida do jovem, o que é aceito e considerado como “bom” em nossa sociedade. Nesse sentido, a sociedade, atribui aos idosos que não vivem essa fase por motivo de saúde, por exemplo, ou por que a aposentadoria é irrisória, a responsabilidade negativa do envelhecer, atribuindo o “problema da velhice” para a responsabilidade individual.
Vale lembrar que essa resignificação que os mercados de consumo ajudaram a construir não está acessível a todos os idosos, pois, em uma sociedade como a nossa existem vários níveis de hierarquização e, como ressalta Guita, transformar os problemas da velhice em uma responsabilidade individual é propor políticas publicas precárias, intensificando a hierarquia social. As concepções destacadas a cima nos leva a pensar os conceitos de cidadania e política importantes para se entender temas da atualidade, como a regulamentação e aprovação do Estatuto do Idoso. A política entendida como a luta para se manter, controlar e obter o poder nas suas diversas manifestações e a cidadania como a implementação dos diversos direitos.
As associações e conselhos dos idosos foram importantes para a consolidação dos direitos sociais como a regulamentação do Estatuto do Idoso. Silvana krause e Denise Paiva (2002), “No texto Noções Preliminares sobre Política”, Os direitos humanos que tem como origem a Declaração universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, instituída na Assembléia Nacional Da França em 1789, que declarava o direito à igualdade e à liberdade para todos os homens, foram de suma importância para a constituição da cidadania que tem por definição o exercício pleno de um conjunto de direitos civis, políticos e sociais.
Esse principio de igualdade permitiu que se lutasse e expandisse a noção de direitos humanos ocorrendo uma crescente e constante luta das minorias pela igualdade, essas minorias podem ser étnicas, raciais, sexuais e também de categorias de idade. A luta por esses direitos ajudaram a implementar o Estatuto do Idoso, que não apenas regulamenta o direito dos idosos, mas também reflete o tratamento da sociedade com relação estes. sociedade com relação estes.